quinta-feira, outubro 26, 2006

OSHO

"As relações de curta duração são cada vez mais comuns numa sociedade como a nossa, que pouco a pouco se vai afastando das suas raízes e da estrutura familiar tradicional e aceita cada vez mais abertamente o sexo livre.
Mas ao mesmo tempo vai surgindo a ideia de que nos falta alguma coisa.
Falta-nos intimidade.
A intimidade tem muito pouco a ver com o lado físico das relações, embora o sexo seja de facto uma das formas possíveis de intimidade. Ser íntimo de alguém implica expor os nossos sentimentos e vulnerabilidades mais profundos, na esperança de que o outro os trate com carinho.
A intimidade é um risco que só poderemos correr se tivermos força para confiar no outro, sabendo que mesmo que ele se isole e se feche em si próprio e mesmo que a confiança seja traída, a relação não vai sofrer danos permanentes."

quarta-feira, outubro 25, 2006

"Crrrack"

Inspirar...
Uma.
Duas.
Três vezes.
Expirar e sentir que o lado mau nos abandona.
O todo pelas partes, bocados divididos, ficam assim restabelecidos.

terça-feira, outubro 24, 2006

Não percas tempo.

Saber estimar é, provavelmente, um dos maiores desafios que se impõe ao ser humano.
Somos frágeis, o mundo em que vivemos é frágil, as oportunidades que nos surgem diariamente, são, também elas, frágeis. A partir daqui, torna-se essencial fazer opções. Escolhas. Decidir destinos. Investir.
Muitos anos estão atrás de nós. Muitas vidas tiveram lugar e desenvolvimento. Muitas histórias do passado, no presente e... no futuro?
O futuro... depende sempre de nós. A continuidade da nossa história pessoal e global é uma carta que só nós podemos escrever. Há que ter lucidez, consciência do que nos beneficia, encontrar o interesse certo, adequá-lo à nossa realidade e dar-lhe o tempo e esforço necessários para que possa ser concretizado.
Pensar no dia de amanhã é a melhor forma de assegurar o nosso bem estar. É certo que esse caminho é o mais difícil, o menos claro. O acesso é limitado, o resultado é incógnito, mas a probabilidade de se conseguir proteger o nosso património individual torna-se maior a partir do momento em que olhamos para o lado como uma parte de nós e decidimos estender-lhe a mão, defendê-lo e amá-lo.
Todos os minutos são oportunidades preciosas.
Crescemos a ouvir dizer que nada é oferecido. Mas se pensarmos bem, o maior tesouro de todos é-nos entregue assim que nascemos. Tempo. Dão-nos tempo.
E nós, o que é que fazemos?
Eu, escolho dar-me, dedicar-me. E ver-te, assim, ao meu lado.
O mundo gira.

domingo, outubro 22, 2006

Mais uns minutos

Já passavam mais de seis horas da manhã. O vento batia à janela, como se fosse um estranho insistente, à procura de atenção.
Ele estava sentado ao computador, disperto, aceso, mas intrigado. Acordara atarantado. Um choque repentino apoderara-se da sua quietude, no decorrer de mais uma noite. Que pensar? Que fazer quando nos deixamos ir? Que... sentir?
Os segundos não desistem, eles avançam, atingem alvos, quantificam uma realidade quase palpável e dominadora. Trata-se de um braço de ferro entre aquilo que queremos ser e aquilo que devemos ou não fazer, de modo a cumprir o protocolo da segurança. Até que ponto devemos defender-nos?
Lá fora, a vida arrasta-se, flui naturalmente, segue o curso num leito irregular e imprevisível.
Aqui dentro, vibra pequenino, aconchegado, numa ternura inquietante, este pequeno pulsar sobrevivente, que persiste em acreditar que é possivel chegar, lucidamente, a esse lugar que se sente quente, a esse lugar de amor.

terça-feira, outubro 17, 2006

E se...

Foi o seu primeiro beijo.
Maria, atarantada, correu dali para fora, num misto de excitação e vergonha.
O sabor nos seus lábios não desmentia o sucedido, mas antes reforçava a veracidade daquela nova experiência, tão ansiosamente desejada.
Pedro, o rapagão da turma. Todas o olhavam, todas queriam a sua atenção, qual princesas à espera do resgate sonhador de um principe caminhante.
Só Maria tinha sido a escolhida. Sentia-se especial e triunfante. Era o seu momento. Tinha sido coroada com um toque de lábios supremo, ardente, apaixonado, num recreio infantil e brilhante.
Em cada passada veloz, sentia o vento a cumprimentá-la, em jeito de homenagem. A natureza também fizera parte da sua experiência, ao assistir em fila primeira a tal troca de carícias.
Seria o inicio de um grande amor?

A vida requer experiência. A experiência requer ingenuidade. A ingenuidade requer vida.


domingo, outubro 01, 2006

Café Café

O Sr. Preservativo marcou um encontro com a Sra. Pílula. Haviam-se conhecido uma semana antes, por intermédio da Dra. Menstruação. Houve empatia, trocaram contactos e combinaram um café numa esplanada solarenga de forma a exporem mais algumas ideias e, quem sabe, tentarem um envolvimento emocional.

O encontro revelou-se um verdadeiro fracasso.

O Sr. Preservativo nem o sabor do café chegou a sentir, uma vez que as suas borrachas anti-aderentes, atacadas pelo ciúme, recusaram-se a permitir que aquela experiência fosse bem sucedida.
Já a Sra. Pílula, coitada, desabituada às capacidades estimulantes da cafeína, teve uma crise de nervos e encheu-se de pó hormonal, para tapar a vermelhidão subita que povoou a sua face.

Moral da História: O café faz mal à saúde (e pode ajudar a engravidar).

Que ricos docinhos

- "Mãe, dá-me um doce!"

- "Não, Verinha. Quero que tenhas uns dentes saudáveis."

- "Oh mãe, por favor!"

- "Cala-te e faz-te uma mulher."

Observação: Esta história passou-se em 1980. Hoje em dia, a "Verinha" continua internada numa casa de correcção.

DEDINHOS, O PROXENETA

Alto e espadaúdo, cabelo amigo da brilhantina, a cara escavacada pelos anos de ralações com as suas meninas. Traje cuidado mas quase sempre o mesmo. Botas de biqueira de aço, não fossem os clientes merecer um carimbo de maus pagadores ou mesmo receber a lição dos mal comportados.
Era assim o "Dedinhos", algarvio de gema, fora tentado pelas boémias lisbonenses, perdera-se num mundo em que o sexo era quase como mais um daqueles produtos que podemos encontrar numa qualquer prateleira do supermercado.
A alcunha devia-se à sua capacidade espantosa para a contagem de notas. Uma a uma, todas passavam por aqueles dedos mecânicos, expectantes, injectados pela adrenalina do negócio. Em cada abertura de pernas de uma das suas protegidas, mais uma remessa chegava, punha-se na fila à espera de ser contada. Nunca se enganava. Cada contagem pressupunha um destino diferente. Ora era o seu próprio bolso, ou a carteira da trabalhadora, ou mesmo o quarto da pensão em que o negócio se desenvolvera.
E para regalo da assistência, o espectáculo era de fácil acesso. Os olhos abriam-se pasmados, perante aquela espécie de truque mágico, em que um homem contava os frutos da sua empresa, aquela em que investira e se tornara uma fonte de satisfação para tantas e tantas cabeças perdidas.