quarta-feira, abril 27, 2005

Circular

- "Conseguiste?"
- "O quê?"
- "Aquilo que me tinhas dito?"
- "O que é que eu te tinha dito?"
- "O que querias?"
- "Mas o que é que eu queria?"
- "O que é que me disseste?"
- "O que é que eu te disse?"
- "Aquilo que querias?"
- "Aquilo que eu queria?"
- "Sim, o que estavas a precisar?"
- "Mas o quê?"
- "Oh, deixa lá isso..."
- "Está bem."

domingo, abril 24, 2005

Só depende de ti

"A vida é uma oportunidade que nos é dada para sermos felizes", dizia a senhora de idade com um sorriso no rosto, na paragem do autocarro, logo de manhã.
Aquela frase enraizou-se no meu pensamento e acompanhou-me ao longo de mais um dia, semelhante a muitos outros, mas em tudo diferente pela ironia da imprevisibilidade.
A vida é, de facto, uma oportunidade. Cabe-nos a nós saber aproveitá-la da melhor maneira.

sexta-feira, abril 22, 2005

"O PARAÍSO NÃO ESTÁ À VISTA"

No mundo de Ian e Myra o sol tem um brilho diferente. Este transforma os seus desejos em ânsias desesperadas, ao permitir-lhes uma existência permeável à eloquência, onde tudo se desenha com a tinta da sua arrogante vontade.

quinta-feira, abril 21, 2005

Assim de repente

E se...

te cruzasses com o teu destino, numa esquina que ainda não conheces?

E se...

estivesse à tua espera, nessa esquina que ainda não conheces, aquilo que tens procurado?

E se...

aquilo que tens procurado não for mais do que aquilo que já tens em ti, lá dentro?

"Goza a vida, que não a levas contigo".

Assim de repente...

domingo, abril 17, 2005

A inevitabilidade.

Maria.
Manel.
Uma mulher.
Um homem.
Portentosa.
Falhado.
Ceifeira.
Campino.
Cantarolava.
Assobiava.
Não quis olhar.
Olhou demais.
Fingiu desinteresse.
Revelou vontade.
Sorriu envergonhada.
Aproximou-se.
Viu-o.
Viu-a.
Quis ver mais.
Mostrou-lhe mais.
Deixou-se ficar.
Ficou com ela.
Andam aí os dois.

AS ESCADAS II

Elas estão ali, à minha frente.
Sim, estou a vê-las.
Cada degrau representa-se a si mesmo, colossal, sublime.
Do lado de cá, a vontade emerge. Sussurra-me ao ouvido, com toque de algodão.
Um pano suave, seda original, aproxima-se de mim. Desce a escada, serenamente, convencido pela brisa determinada que urge logo atrás.
É o meu momento.
Agora.
Tudo o que tenho.
Tudo o que quero ter.
O pano chega assim. Torna-se em mim. Cobre-me enfim.
Eu não vacilo. Pertenço-lhe.
Vou por ali.
Sim, por ali.

O saquinho das pastilhas elásticas

Uma a uma, lentamente, todas saem do pacote.
São companheiras de vida desta senhora que não quer ver o tempo. Que deixou de acreditar que é possível deixar para trás os crimes de vida que a atormentam.
Sessenta anos e alguns meses de barriga são suficientes para lhe furtar a esperança que poderia ainda existir em cada um dos seus movimentos respiratórios.
Para evitar pensar, socorre-se destas pastilhas... elásticas... modeláveis... que não se queixam dos tormentos que sofrem às mãos de cada dente enraivecido.
Ao mastigar, esquece-se do mundo. Num gesto recorrente, menor, eficazmente redutor.

sábado, abril 02, 2005

AS ESCADAS

Estava a descer as escadas quando ouvi o meu nome a ser chamado por ti.
Claro que me voltei imediatamente, não poderia ignorar o teu apelo entusiasta e tão explicito.
Regredi no tempo e no número de escadas ao ver a tua expressão infantil mas determinada depois de me pedires que te acompanhasse à tua primeira passagem pelo museu da vida que era tua.
Tu...
Já a música me dizia para ter cuidado. Já os teus olhos me ensinavam que nem sempre o destino se faz daquilo que realmente queremos. Já a tua boca me sabia a desilusão quando resolveste prescrever o não.
Seria mais fácil se o engano tivesse sido meu. É sempre mais fácil quando nos entregamos à via da tentação. Mas a razão também tem voz.
Tem voz e não é pequena, que quando se põe aos berros não há quem tenha paciência.