sábado, novembro 25, 2006

Duas vezes até seguir caminho

Margarida deteve-se perante o impulso, ao pensar uma segunda vez na imprudência da escolha que marinava a sua vontade imediata.
A serenidade é uma virtude das mentes sábias.
Naquele momento, realizou-se da sua cólera e amordaçou-a com eficácia, mantendo o fôlego quente, mas isolado. Resgatou o espírito e salvou a razão, porque é na passada adulta que se encontra a virtude de quem sabe o valor de tudo o que pode ser viver.

sábado, novembro 11, 2006

"A PORTA"

" Vai e abre a porta.
Talvez lá fora haja
uma árvore, ou um bosque,
um jardim,
ou uma cidade mágica.

Vai e abre a porta,
Talvez haja um cão a vasculhar.
Talvez vejas uma cara,
ou um olho,
ou a imagem
de uma imagem.

Vai e abre a porta.
Se houver nevoeiro
dissipar-se-á.

Vai e abre a porta.
Mesmo que nada mais haja
que o tiquetaque da escuridão,
mesmo que nada mais haja
que o vento surdo,
mesmo que nada haja,
vai e abre a porta.

Pelo menos
haverá
uma corrente de ar."

Miroslav Holub

sexta-feira, novembro 03, 2006

A nossa fase

Adolescente.
Descoberta e deslumbramento.
Experimentação.
Confusão entre identidade e identificação.
Amores descontrolados.
Fuga a regras e imposições.
Rebeldia à flor da pele.
Dúvidas e medos.
O corpo muda.
A mente acorda.
O sonho continua.


Será que a adolescência termina?

quinta-feira, novembro 02, 2006

Sem medos

Na cozinha, a avó descasca uma cebola.

- "Avozinha, porque estás a chorar?"
- "Oh minha rica menina, a avó não está a chorar. A culpa é desta cebola que me ataca os olhos."
- "E o amor, avó, também nos ataca os olhos?"
- "O amor?"
- "Sim. Vi uma senhora na televisão a chorar muito. Dizia que chorava por amor."

- "O amor é uma coisa muito bonita, Rosinha. Mas não nos ataca os olhos. Ataca-nos o coração."
- "Ah... Então pode matar-nos?"
- "Não. O amor dá-nos vida."

Entreolharam-se. A avó continuou a descascar a cebola. A Rosinha foi brincar para o quintal, apaixonada.