domingo, outubro 01, 2006

DEDINHOS, O PROXENETA

Alto e espadaúdo, cabelo amigo da brilhantina, a cara escavacada pelos anos de ralações com as suas meninas. Traje cuidado mas quase sempre o mesmo. Botas de biqueira de aço, não fossem os clientes merecer um carimbo de maus pagadores ou mesmo receber a lição dos mal comportados.
Era assim o "Dedinhos", algarvio de gema, fora tentado pelas boémias lisbonenses, perdera-se num mundo em que o sexo era quase como mais um daqueles produtos que podemos encontrar numa qualquer prateleira do supermercado.
A alcunha devia-se à sua capacidade espantosa para a contagem de notas. Uma a uma, todas passavam por aqueles dedos mecânicos, expectantes, injectados pela adrenalina do negócio. Em cada abertura de pernas de uma das suas protegidas, mais uma remessa chegava, punha-se na fila à espera de ser contada. Nunca se enganava. Cada contagem pressupunha um destino diferente. Ora era o seu próprio bolso, ou a carteira da trabalhadora, ou mesmo o quarto da pensão em que o negócio se desenvolvera.
E para regalo da assistência, o espectáculo era de fácil acesso. Os olhos abriam-se pasmados, perante aquela espécie de truque mágico, em que um homem contava os frutos da sua empresa, aquela em que investira e se tornara uma fonte de satisfação para tantas e tantas cabeças perdidas.