Foi por ali
- "Calhordas!", diz o senhor sentado no banco. Está ali desde que o ponteiro maior do relógio deu quatro voltas.
O rosto sereno, digno de si. As mãos imóveis, assentes no colo. As pernas dormentes, carentes de ritmo. O entusiasmo de uma infância feliz, em que o berlinde era o melhor amigo dos seus dedos e a imaginação sua incansável companheira.
Aos anos que deixara de ser uma criança, e no entanto sentia o apelo da juventude no seu coração. Deixara-se de brincadeiras muito cedo, quando solicitação materna se impôs.
O dinheiro não abundava e havia muito trabalho a precisar de atenção. Seguiu os passos que lhe eram destinados e caminhou sem hesitações.
Lamentos são para os tolos, que cegos querem ser.
- "Calhordas!", repete outra vez, reconfortado pelo jardim que o rodeia, numa tarde em que a primavera resolveu acordar do descanso em que adormecera.
Recorda o momento em que lhe foi apresentada a despedida, ao presenciar a partida do seu pai, rumo a melhores dias, por necessidade, claro está, que a vida não é fácil, muito menos quando não se faz por ela. Fora a convite de entidades desconhecidas, mas prometedoras.
Fora e não voltara mais. Partira com um único sorriso no rosto, provocado pela esperança de vir a proporcionar melhores ocasiões. Uma única palavra dirigiu ao seu pequeno filho.
- "Calhordas!", dizem os dois.
2 Comments:
és tu k escreves isto?
n leves a mal a pergunta pois é puramente inocente...
... sim... ;-)
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