segunda-feira, outubro 25, 2004

O RASTO

Quando Helena acordou, ouviu o ruido do soalho por baixo da cama a manifestar uma sonoridade que desconhecia. Imediatamente percebeu que aquele dia seria diferente de todos os outros a que se tinha habituado.

Ao ouvir o despertador, Miguel refilou com a vida, por, mais uma vez, ver-se obrigado a cumprir o ritual massacrante que lhe competia. Olhou para a janela, à procura de um sinal meteorológico que lhe permitisse deduzir que tipo de dia teria pela frente. Mas viu o sol a fugir e reconheceu imediatamente a singularidade daquilo por que ia passar a partir dali.

Joana não dormia há três dias, quando se apercebeu que já estava em mais um ciclo matinal. Atordoada pelo peso das horas, encontrou uma marca na palma da mão que não poderia ter sido feita por si própria ou por alguém que se assemelhasse. Compreendeu que, naquele momento, a inédita surpresa era sua companheira.

Com a destreza de uma mola, Ricardo arrancou para a vida. Acabara de nascer e tinha à sua frente algo que nunca vira. Um ser de formas estranhas que o acariciava de modo estranhamente familiar e que, de certa maneira, apelava à sua vontade de comunicação, mas que lhe trouxera um mundo que desconhecia por completo.

Segue o rasto.