terça-feira, outubro 19, 2004

GRANDE e Bonita

Mãe – (a pentear o cabelo da filha) Tenho pena que não o cortes, prefiro ver-te com ar de Maria rapaz.

Filha – Depois os rapazes gozavam comigo.

Mãe – É bom que os rapazes gozem. Porque enquanto gozam não têm ideias menos decentes.

Filha – Se alguém se mete comigo fico triste.

Mãe – Nada melhor do que estar triste para fortalecer o carácter. É assim que nos tornamos grandes e bonitas.

Filha – Já esteve muitas vezes triste, mãe?

Mãe – Não tantas como gostaria. Sempre me deixaram ter o cabelo grande como o teu. E isso não me trouxe nada de bom.

Filha – (hesitante) Se o cortar, vou ser grande e bonita?

Mãe – Terás mais hipóteses, minha querida filha…

Filha – Então corte-mo. Corte-me o cabelo para que eu possa ficar triste.


Mãe – (pega numa faca, detém-se a olhar para ela uns momentos, inicia o corte de cabelo, calmamente, mas gradualmente o ritmo acentua-se, cresce uma agressividade, transforma-se em fúria e degola a filha. Pausa. Respiração. Um momento. Retoma a pose e o sorriso) Agora, meu amor, estás grande e bonita. Como eu nunca fui.

3 Comments:

Blogger DFaria said...

Oh nini... o texto serve para reflectir um bocadinho. Nem pensei na Joana quando escrevi, mas nas frustrações que andam para aí espalhadas e que se não forem devidamente "tratadas" acabam por ter um fim dramático como aqueles que conhecemos.

10:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Qual Lady Macbeth!

Gosto, gosto, gosto! Gosto dos seus olhos, da sua maneira de andar! Sonho com tudo isso!

Não ousarei a voltar a ver aquilo!!

MAMÃE! QUERO LAMBER AS CHAMINÉS DO PALÁCIO NACIONAL DE SINTRA!!!

1:51 da tarde  
Blogger DFaria said...

Em tudo encontramos semelhanças!!!... É uma das maiores graças da vida! :-)

10:44 da tarde  

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